No meio dessa pandemia é difícil pensar em coisas que não sejam relacionadas a ela. Porque tudo é. E as perspectivas pós-COVID-19 devem ser discutidas para podermos delinear caminhos e saídas. Antes de iniciarmos, nossas condolências às mais de 15 mil famílias que tiveram familiares falecidos em decorrência do vírus.
Na semana passada a ICCA – International Congress & Convention Association divulgou recentemente o seu ranking de 2019 – primeiro os países e as principais cidades. O ranking mostra o número de eventos internacionais realizados – por país e por cidade – a partir de alguns critérios. O ranking ICCA é uma das publicações mais respeitadas do segmento MICE (meetings, incentives, congress and exhibitions), serve como um indicador de desempenho de países e cidades no segmento – e pode servir como respaldo na imagem do destino para futuras captações.

O turista estrangeiro que participa de eventos no Brasil gasta cerca de quatro vezes mais que o turista de lazer – U$ 330 x U$ 78 – segundo a EMBRATUR. O Brasil já esteve mais bem ranqueado: chegamos a ocupar o sétimo lugar em algumas oportunidades, chegando a sediar 360 eventos internacionais num ano. Em 2018, amargamos o 17º lugar (233 eventos e a pior posição desde 2003). Em 2019, caímos mais, para o 20º lugar.
Não irei aprofundar as questões da grande queda no ranking, mas vou citar algumas: falta de política agressiva de captação de eventos internacionais, falta de conectividade aérea, outros problemas de infraestrutura, violência, problemas nos ambientes políticos e econômicos, etc.

Florianópolis, historicamente, está bem ranqueada e há muitos anos entre os 10 principais destinos brasileiros que mais recebem eventos internacionais: em 2018 ficou com a quarta posição, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu. Os “eventos ICCA” são uma pequena parcela dos eventos que ocorrem no mundo, perto dos eventos internacionais que não fazem parte do ranking (400.000 contra pouco mais de 10.000 do ranking ICCA) mas servem de importante parâmetro para os destinos. O trabalho realizado por diversas organizações – privadas e públicas – especialmente o Floripa Convention – deve ser enaltecido. A combinação de belezas naturais, equipamentos adequados e trabalhadores qualificados só funciona quando outras engrenagens estão aptas, como é o caso da superestrutura e do alinhamento do poder público com o trade local.

Ainda nos faltam outras engrenagens para nos tornarmos mais competitivos, como mais conectividade aérea. O novo aeroporto de Florianópolis, operado pela Floripa Airport, tem recebido prêmios importantes e está entre os melhores do Brasil. A política de subsídio no combustível da aviação via ICMS era tímida, mas era melhor do que nada. Agora, no momento pós-Covid, quando caixas dos Estados – e das companhias aéreas – estiverem combalidos – as cartas estão novamente na mesa. Precisamos também de mais hotéis de padrão internacional e uma política agressiva de promoção para o turismo (como a Prefeitura de Florianópolis e o Convention têm realizado em parceria – participando das principais feiras e investindo em press trips e famtours – incluindo ações específicas para o segmento MICE – como foi o caso da participação no evento EBS, em São Paulo). A diversificação de espaços para eventos de maior porte também é um fator importante – e em breve o Governo do Estado – via Santur e SC PAR – deverá lançar edital de concessão do Centro de Eventos Luiz Henrique da Silveira – trazendo mais competitividade ao equipamento e consequentemente aumentando o rol de espaços passíveis de receberem eventos de grande porte.

Vivíamos um momento muito positivo para Florianópolis, com entregas recentes do novo Aeroporto, da Ponte Hercílio, do Largo da Alfândega, do engordamento da faixa de areia de Canasvieiras e outras previstas, como o Parque Urbano e Marina da Beira Mar Norte, a SC-401, a revitalização da Av. das Rendeiras e da orla de Coqueiros e de vias importantes em dezenas de bairros, praças novas e reformadas, incremento na sinalização turística, novas quadras para esportes de areia, ações de arte urbana e muitos eventos e atividades realizados ao ar livre (maratonas, provas de triátlon, piqueniques, feiras, festivais, etc.). São investimentos e melhorias visíveis e uma integração importante entre poder público e sociedade – seja via entidades ou conselhos de desenvolvimento e associações de bairros (e também na relação “entidades com entidades”). Exemplo marcante dessa união foi o Floripa Conecta, que ocorreu de 09 a 18 de agosto de 2019. Movimento baseado no conceito do SXSW, de Austin, Texas, Estados Unidos, ele reuniu dezenas de atividades relacionadas à economia criativa – como gastronomia, tecnologia, cultura, design, esportes – unindo, num mês tradicionalmente de baixa ocupação, dezenas de eventos e atividades – como a ExpoTattoo, a Maratona Cultural, a Orquestra de Baterias, a Semana Balaclava, eventos de tecnologia e empreendedorismo, entre muitos outros, gerando não só fluxo de pessoas e financeiros, mas mostrando que setores criativos podem ser grandes contribuintes como potencializador de destinos. Mostra ainda a face dinâmica do município que não depende somente do verão para a obtenção de resultados positivos no turismo.

Antes da COVID-19, o momento nos fazia vislumbrar períodos positivos, deixando a insegurança jurídica e a letargia de outrora, para vivenciarmos um período com resultados concretos e um futuro alvissareiro. A competição entre destinos é cada vez maior – mas estávamos caminhando para sermos cada vez mais fortes, evoluindo em infraestrutura, aprimorando nossos serviços e nossa capacidade de relacionamento com o mercado – tudo baseado em esforço fiscal, planejamento e integração da governança.
Mas e as perspectivas para a retomada? Os exercícios de futurologia têm navegado de diversas formas e perspectivas. O que pensamos, após leituras, lives e principalmente em conversar com grandes operadoras é que:

- Não há uma “data-chave” para a retomada (o que se percebe são buscas com mais frequência para viagens a partir de outubro)

- as cidades – como Florianópolis – que adotaram medidas restritivas no início da pandemia, têm aplicado testes em massa e que realizam o monitoramento no Aeroporto (Florianópolis foi a primeira) e as cidades em que a oferta turística esteja com protocolos adequados têm sido as que estão conseguindo números melhores na luta contra o vírus e são as mais buscadas pelos brasileiros para viagens, quando da retomada das atividades.
Para finalizar, minha solidariedade a todos os trabalhadores – empresários, empregados, free lancers e demais pessoas do trade.
Vinicius De Luca Filho é Professor do Instituto Federal de Santa Catarina – Câmpus Florianópolis-Continente. Turismólogo. Doutor em Geografia – Desenvolvimento Regional e Urbano.
Foi Superintendente de Turismo de Florianópolis de janeiro de 2017 a abril de 2020.