Em nossas praias de mar e também em lagoas, podemos encontrar diversas espécies de aves, que variam de uma região para outra. Algumas se reproduzem no local onde são vistas, outras fazem migrações que podem ser de curta ou grande distância permanecendo um período em cada região.
Eu recomendo muito a observação no litoral, que deve dar preferência a locais longe das áreas urbanas. A grande vantagem é que as aves nestes locais ficam mais visíveis, com boa iluminação e muitas vezes em bandos de muitas aves de uma só espécie. Ou misturadas.
As espécies e suas quantidades variam durante o ano, de acordo com os movimentos das aves em busca de seu local preferido. Então sempre se podem ver espécies novas ou em situações nunca observadas antes.
Várias espécies de maçaricos, fazem todos os anos uma migração que compreende dois voos de aproximadamente 7.500 km em cada direção, ou seja, fazem quase 15.000km por ano. Os voos atravessam os oceanos, que as aves sobrevoam durante aproximadamente 6 dias em voos sem paradas e sem pousos. Estes maçaricos se reproduzem no Alasca ou na calota ártica, e nesta época (setembro) voam em direção à Patagônia no sul do continente, passando pelo Brasil, onde recuperam energias. Eles se alimentam de vermes e pequenas conchas que capturam com seus bicos na areia das margens do mar ou lagoas.
Já foi registrado um maçarico que durante sua vida, voou uma distância maior do que uma viagem da terra até a lua! Tudo isto em busca do alimento ideal para a sua sobrevivência.
Outras espécies fazem migrações mais curtas, por exemplo do sul do Brasil para o centro do país. Elas fogem do frio do inverno no sul, e retornam nesta época do ano para passar o verão.
Neste sábado, 26 de setembro de 2020, realizei uma viagem para observação de aves, saindo de Porto Alegre, e indo até o município de Mostardas, seguindo pela praia desde o município de Palmares do Sul, na praia de Quintão. Apenas eu e minha esposa, sem aglomeração em praias onde somente esparsos pescadores amadores também faziam seu hobby.
Neste trecho foi possível observar várias espécies de aves, algumas delas migratórias, como o maçarico-do-papo-vermelho e o maçarico-branco. Elas acabaram de chegar de um voo desde os Estados Unidos da América do Norte, param aqui por alguns dias para reforçar as energias, e em seguida partem para a Patagônia e Terra do Fogo na Argentina e Chile. Lá procriam e permanecem até abril do próximo ano, quando reiniciam a viagem de volta para o Ártico já com os filhotes. É uma história muito bela!
Os maçaricos tem sido anilhados por instituições de pesquisa oficiais (faculdades, institutos de proteção de animais e outras) com pequenas bandeirolas fixadas em suas patas, e que permitem acompanhar as aves mesmo sem ser necessário recapturá-las. Quando nos deparamos com uma ave anilhada, enviamos a foto à instituição responsável pelo anilhamento, informando onde e quando ocorreu a avistagem.
Na foto, a bandeirola Verde, com a gravação M=T foi aplicada na perna do maçarico em 2018. É grande a satisfação de poder visualizar uma ave anilhada, pois ficamos sabendo que ela segue sua rotina.
Outras espécies, que permanecem aqui o ano inteiro, como o carcará, são aves que se alimentam principalmente de carniça, ajudando a consumir animais mortos, assim como fazem os urubus.
Todas as fotos deste artigo foram obtidas nesta viagem de 4 h pela beira da praia do RS, neste sábado dia 26 de setembro de 2020.
A observação em ambiente de mata já exige um conhecimento maior, principalmente das vocalizações. É bem mais difícil localizar as aves atrás de galhos e folhas, sem contar nos perigos de andar no meio do mato.
Colunista observação de aves : Gilberto Sander Müller é fotógrafo amador, observador de aves e morador de Porto Alegre, RS, Brasil.