24/05/2025
Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos fala sobre Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia documental e humanitária

Sebastião Salgado e a fotografia imortal

A fotografia de Sebastião Salgado não era apenas um ato de capturar momentos

Bom Dia SC Em primeiro lugar, Sebastião Salgado figura entre os maiores nomes da fotografia documental e humanitária do século XX e XXI. Sua obra transcende o mero registro visual, alcançando uma dimensão quase imortal ao revelar a complexidade da condição humana, suas dores, esperanças, belezas e contradições. Nascido em 1944, no interior do Brasil, Salgado inicialmente bacharelou-se em Economia, o que lhe conferiu uma visão crítica sobre as desigualdades sociais e econômicas do mundo, algo que viria a traduzir magistralmente em suas imagens.

A partir dos anos 1970, passou a dedicar-se integralmente à fotografia, usando sua lente para iluminar realidades invisibilizadas, muitas vezes invisíveis para o olhar comum.

Outrossim, a fotografia de Sebastião Salgado não é apenas um ato de capturar momentos; é um compromisso ético e estético. Seu trabalho é marcado por uma profunda empatia para com os sujeitos fotografados e por uma meticulosa busca pela excelência visual. Isso se reflete na escolha de uma fotografia em preto e branco, que dispensa a distração das cores para enfatizar a forma, a luz, a sombra e a emoção.

Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos fala sobre Sebastião Salgado, um dos maiores nomes da fotografia documental e humanitária

Suas imagens são densas, carregadas de significado, e possuem uma força narrativa quase cinematográfica. A textura, o contraste e a composição contribuem para que cada foto funcione como um documento histórico e, simultaneamente, como uma obra de arte.

No entanto, um dos aspectos mais notáveis do trabalho de Salgado é a sua capacidade de criar uma “fotografia imortal”. Isso significa que suas imagens resistem ao tempo, tanto pela qualidade técnica quanto pela profundidade temática. Suas séries fotográficas são resultados de longos períodos de pesquisa e acompanhamento de temas, desde as condições dos trabalhadores rurais na América Latina, até a exploração das minas de ouro na África, passando pelos refugiados e pelos impactos das guerras.

Essa dedicação resulta em projetos que não só documentam, mas sensibilizam, provocam reflexão e mobilizam consciência. Fotografias como as da série “Trabalhadores”, por exemplo, não são meramente ilustrativas; elas eternizam a dignidade, a luta e o sofrimento do homem comum, conferindo-lhes uma aura quase mítica.

Ademais do conteúdo, a “fotografia imortal” de Salgado está profundamente ligada à sua técnica e processo de trabalho. Ele é conhecido por seu rigor e disciplina, que vão desde a escolha do equipamento até o cuidado extremo na revelação e impressão das fotografias. Salgado prefere usar câmeras analógicas, o que exige um domínio técnico e um tempo maior para a captura das imagens, diferente da rapidez proporcionada pelas câmeras digitais.

Esse processo mais lento, deliberado, fortalece a conexão do fotógrafo com o seu objeto e garante uma qualidade ímpar às imagens. O preto e branco, escolhido intencionalmente, transcende modismos e tendências passageiras, contribuindo para que suas fotografias mantenham sua força e atualidade mesmo décadas após terem sido feitas.

Outro ponto fundamental da obra de Sebastião Salgado jaz no seu caráter documental e humanitário. Diferente de uma fotografia meramente estética, suas imagens são sempre carregadas de uma mensagem social. Salgado revela as condições extremas vividas por pessoas marginalizadas, exploradas e sofridas, denunciando a injustiça e estimulando a empatia global.

Entrementes, ele mostra a beleza intrínseca da humanidade, mesmo em contextos adversos, criando um contraponto poético e esperançoso. Essa dualidade entre denúncia e beleza é o que torna sua fotografia tão poderosa e duradoura. Seus projetos, como “Êxodos” e “Gênesis”, ampliam essa visão, abordando temas universais como migração, deslocamento e a relação entre homem e natureza.

A imortalidade da fotografia de Sebastião Salgado não reside apenas no fato de suas imagens sobreviverem ao tempo, mas também na capacidade delas de continuar provocando reflexão, emoção e mudança social. Sua obra é constantemente exibida em exposições internacionais, publicada em livros e usada como referência em estudos sobre fotografia e direitos humanos.

O fotógrafo contribuiu para que a fotografia documental ganhasse reconhecimento como uma ferramenta poderosa de transformação social, mostrando que a imagem pode ser um agente ativo no combate à desigualdade e na promoção da dignidade humana.

Ademais disso, a trajetória de Sebastião Salgado é marcada por um compromisso contínuo com a preservação ambiental, especialmente a partir da criação do Instituto Terra, junto com sua esposa Lélia Wanick Salgado. O instituto atua na recuperação da Mata Atlântica brasileira, revelando que o fotógrafo também é um agente de transformação direta no mundo real, para além do registro visual.

Essa ligação entre arte, ética e ativismo fortalece ainda mais a dimensão imortal de sua fotografia, que não se limita à fruição estética, mas se expande para um projeto de vida e de intervenção social e ambiental.

Em epítome, Sebastião Salgado construiu uma obra que desafia o efêmero e o superficial, entregando ao mundo uma “fotografia imortal” que permanece viva não apenas nas paredes de museus ou nas páginas de livros, mas na consciência coletiva da humanidade.

Sua câmera não é apenas um instrumento de captura, mas uma lente ética que revela o mundo em sua complexidade, beleza e sofrimento, inspirando empatia, respeito e ação. Sua contribuição para a fotografia e para a cultura mundial é incalculável, e seu legado seguirá influenciando gerações futuras de fotógrafos, artistas e ativistas.

Por final, a imortalidade de sua obra consiste na prova do poder da imagem como veículo de transformação e preservação da memória humana.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

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