Diagnóstico deixa dúvidas em mulheres que querem ser mães, mas precisam enfrentar a doença, que acomete uma a cada dez brasileiras
No Brasil, uma a cada dez mulheres sofrem com endometriose. A doença caracterizada pela presença do tecido endometrial fora da cavidade do útero deixa inférteis 37% das mulheres acometidas, segundo a Sociedade Brasileira de Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva. Com isso, muitas dúvidas surgem ao descobrir a doença, principalmente quando a mulher tem o sonho de engravidar. O que é preciso fazer? Fertilização in vitro e congelar óvulos são boas opções?
A doença, considerada causa frequente de infertilidade feminina, pode danificar as tubas uterinas, dificultando o encontro entre espermatozoide e óvulo, impedindo a gravidez de forma natural. O sintoma mais frequente de endometriose é a dor crônica, afetando em 57% do público, mas a ausência da dor não exclui o diagnóstico. O tratamento depende principalmente do grau da doença e do desejo reprodutivo do casal, pode ser feito com medicamentos, cirurgia ou mesmo técnicas de reprodução assistida.
Para o especialista em reprodução humana, Dr. João Guilherme Grassi, ao se deparar com o diagnóstico, a paciente deve ser orientada pelo profissional de saúde quanto às possibilidades de gravidez.
“Não é toda paciente que tem endometriose que não conseguirá engravidar, visto que 63% delas não enfrentarão nenhuma dificuldade em conceber. Porém 37% encontrarão dificuldades. Consideramos infertilidade quando após um ano de tentativas regulares a gravidez não ocorre. Reduzimos este prazo para seis meses em caso de mulheres com mais de 35 anos. No caso do planejamento reprodutivo o tempo e a idade da mulher são os maiores determinantes da probabilidade da paciente engravidar ou não. Por isso é tão importante buscar um especialista em infertilidade logo. A conduta na paciente com endometriose vai depender principalmente da idade, reserva ovariana (estoque de óvulos), sintomas e desejo reprodutivo da paciente.
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Muitas vezes o tratamento mais indicado acaba sendo a fertilização in vitro, pois nesse processo promovemos o encontro dos espermatozoides com os óvulos fora do corpo, posteriormente devolvendo os embriões para dentro do útero, não sendo necessária a atuação das tubas (que estão frequentemente acometidas pela doença). Os resultados costumam ser muito animadores, mas a idade da paciente é o maior determinante das taxas de sucesso. Em alguns casos excepcionais pode ser necessária a cirurgia antes da tentativa de fertilização in vitro. Em casos em que a paciente não tem desejo gestacional imediato, mas precisa fazer a cirurgia pelos sintomas de dor, o mais indicado é congelar óvulos, pois a retirada cirúrgica da endometriose (principalmente dos ovários) pode reduzir significativamente a reserva ovariana da paciente, reduzindo as chances de gravidez no futuro.”
Neste contexto, surge a questão: congelar antes ou depois da operação? O estudo “Oocyte vitrification for fertility preservation in women with endometriosis: an observational study”, publicado em 2020 na Revista Fertility and Sterility mostra que o número de óvulos congelados em mulheres que não passaram pela cirurgia é maior em comparação com as que fizeram a operação. A conclusão sugere a realização da cirurgia somente após a estimulação ovariana e congelamento de óvulos.
“A cirurgia de endometriose pode comprometer parte da reserva ovariana, independente da fase da vida da mulher em que a operação é feita. Cada caso deve ser analisado individualmente por um profissional especializado em reprodução humana, que leve em conta o nível da reserva da paciente. Contudo é muito importante a consciência que mesmo o congelamento de óvulos não garante bebê em casa, por isso é tão importante a minimização dos danos ovarianos durante a cirurgia, bem como tentar engravidar logo que liberada pelo cirurgião. Caso a gravidez não ocorra espontaneamente em até seis meses a um ano após a cirurgia, o casal deve buscar auxílio das terapias de reprodução assistida, como a fertilização in vitro”, conclui Dr. Grassi.
Fonte: Dr. João Guilherme Grassi