Antonieta de Barros foi a primeira parlamentar mulher de Santa Catarina e a primeira deputada negra eleita no Brasil. Desde novembro de 2006, é quem dá o nome ao principal auditório da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
É considerada uma das maiores educadoras de seu tempo. Antonieta foi quem instituiu o marco para que os educadores passassem a ser vistos como importantes agentes de mudanças na sociedade. Pela Lei nº 145, de 12 de outubro de 1948, criou o Dia do Professor e o feriado escolar em Santa Catarina. Vinte anos depois, em outubro de 1963, o então presidente João Goulart tornou a lei nacional.
Antonieta de Barros foi eleita deputada estadual em duas ocasiões: em 1934 e em 1946. Foi também escritora e jornalista. Sua trajetória na política, na educação e na literatura a transformaram em uma referência para o movimento negro em todo o país.
Foi alfabetizada cedo, em escola particular, graças ao empenho de sua mãe, Catarina, que, mesmo pobre, trabalhando como lavadeira e doméstica, investiu na educação de seus filhos. Aos 17 anos, em 1918, ingressou na Escola Normal Catarinense e, desde lá, iniciava a trajetória de jornalista e escritora, quando organizou sua primeira publicação de cunho estudantil, a revista manuscrita A Graciosa. Também se destaca sendo a presidente do Grêmio das normalistas. Tinha apenas 19 anos quando protagonizou esses feitos.
Em 1934, candidata pelo Partido Liberal Catarinense, Antonieta se tornou a primeira deputada eleita em Santa Catarina e a primeira deputada negra eleita no Brasil. Repetiu o feito na década de 1940, desta vez pelo PSD. Foi defensora atuante do magistério, da educação superior para as mulheres, do acesso da juventude empobrecida ao ginásio e à universidade, não deixando de pautar também direitos para os jornalistas e o funcionalismo público.
Na Assembleia Legislativa atuou pela melhoria da educação popular e fez parte da Comissão de Educação e Justiça, onde propôs projetos de lei para ampliar a carreira do magistério de Santa Catarina. Na época, foi aprovada a lei para a realização de concursos para o magistério, além de legislações para conceder bolsas de cursos superiores, o que contribuiu para ampliar a alfabetização e a profissionalização local.
Incansável, a educadora continuava a dar aulas e a escrever nos jornais do estado. Em 1937, reuniu os principais artigos no livro Farrapos de Ideias, cujo lucro da primeira edição foi doado para a construção de uma escola para abrigar filhos de pessoas afastadas da sociedade por terem hanseníase.
Reeleita e criticada
Com tantas ações positivas, elegeu-se deputada mais uma vez em 1946. No entanto, apesar de ser reconhecida e apreciada por parte da população, a postura combativa de Antonieta fez com que ela fosse atacada por diversas personalidades da época, inclusive com falas racistas.
Historiadores afirmam que Antonieta não se abatia com as críticas e permanecia firme nos cargos em que ocupou. Quando possível, ela chegava a responder publicamente aos ataques. Um deles foi Oswaldo Rodrigues Cabral, político, jornalista e professor de história catarinense, que afirmou que as publicações da escritora nos jornais eram “intriga de senzala”.
Na ocasião, Antonieta respondeu o comentário em uma publicação no jornal O Estado e afirmou que era um benefício à população o distanciamento de Oswaldo das salas de aula para realizar outros afazeres, como a política. “Sua Excelência, para a felicidade de todos quantos são arianos – apesar de portador de um diploma de jornalista – não milita no ensino público. Dizemos felicidade porque, à sua Excelência, falta uma das qualidades de professor: não distinguir raças, nem castas, nem classes”, frisou, em maio de 1951.
Imprensa catarinense
Com o pseudônimo de Maria da Ilha, Antonieta de Barros começou a escrever suas crônicas e contos em 1922, logo após concluir a Escola Normal. Foi nessa época que fundou o jornal A Semana; além de contribuir para a Folha Acadêmica, O Idealista, Correio do Estado e O Estado. Em um artigo publicado no Jornal República, em julho de 1932, Antonieta fez duras críticas à falta de oportunidades para as mulheres continuarem a formação estudantil em faculdades.
“Há uma grande lacuna na matéria de ensino: a falta dum ginásio onde a mulher possa conquistar os preparatórios para ingressar no ensino superior. O elemento feminino vê, assim, fechado diante de si, todos os grandes horizontes”, escreveu.
Fonte: Agência Alesc
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