O beijo: Um mergulho na complexidade do gesto mais íntimo
No dia 13 de abril, celebramos o Dia do Beijo, um dos gestos mais universais de afeto e conexão entre as pessoas. A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra 41 hospitais universitários pelo Brasil, aproveita a ocasião para destacar não só a riqueza cultural e os mitos associados ao beijo, mas a sua relevância para a saúde física e mental, enfatizando a necessidade de práticas seguras e conscientes.
O beijo, uma expressão humana de amor e carinho, transcende os limites físicos e se aprofunda no território dos sentimentos e da comunicação não verbal, tendo sido destacado em diversas formas de arte ao longo da história, desde a literatura até a música, passando pelo cinema e chegando às telenovelas.
Os benefícios cardiovasculares e cerebrais do beijo
Saindo das telas, percebemos, na prática, que o ato de beijar também possibilita uma série de benefícios, entre eles os ligados ao sistema cardiovascular, como esclareceu o professor adjunto, e cardiologista, da Unirio, com atuação no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), Julio Cesar Tolentino. “O beijo atua ajudando nosso sistema nervoso central a ativar o sistema nervoso autônomo, mais especificamente a parte chamada parassimpático, que é protetora do coração”. Além disso, outro mecanismo relacionado à proteção cardiovascular é a diminuição do cortisol, o hormônio do estresse. O estímulo proporcionado pelo beijo, seja tátil, olfativo ou gustativo, contribui para a redução da produção de cortisol, promovendo um estado de calma e tranquilidade. “A produção de cortisol, a longo prazo, pode ser negativa para o coração,” adicionou.
Entretanto, enquanto o “beijo afetivo” ativa o sistema nervoso parassimpático, levando à redução da frequência cardíaca e melhora da pressão arterial, o “beijo apaixonado” desencadeia uma resposta diferente: Estimula o sistema nervoso simpático, resultando em um aumento da frequência cardíaca. Contudo, isso não implica um efeito prejudicial ao coração; trata-se de uma resposta natural ao desejo e à paixão, demonstrando a gama de respostas que o beijo pode provocar no organismo.
Curiosamente, esse efeito durante um beijo apaixonado, segundo o cardiologista, explica o instinto de fechar os olhos. Esse gesto intensifica a experiência ao reduzir distrações visuais e concentrar a percepção no tato e nas sensações emocionais, dado que a dilatação da pupila, uma consequência dessa ativação, pode tornar a luminosidade incômoda. Fechar os olhos, portanto, não só melhora o foco no momento de intimidade como também é uma adaptação natural a essa ativação fisiológica.
Beijar e ser beijado melhora a saúde mental
O ato de beijar uma pessoa possibilita, também, pensar a respeito de uma ação íntima, de estar aberta ao outro, assim como de se permitir ser tocada pelo outro, conforme expõe a psicóloga hospitalar do Hospital Universitário Ana Bezerra (Huab-UFRN), Margarethe Lígia Florêncio. “O beijo pode ser visto como uma maneira de expressarmos afeto e carinho por alguém, sendo uma forma de acolher e demostrar amor, proporcionando um bem-estar emocional mútuo, tendo em vista que beijar uma pessoa que se ama pode modificar tanto os sentimentos individuais quanto os sentimentos do outro” disse, complementando que o beijo também é um termômetro na saúde do relacionamento de um casal.
O beijo libera neurotransmissores reconfortantes, como a ocitocina, “conhecida como o hormônio do amor, que fortalece vínculos afetivos e promove sensações de segurança e confiança (bastante comum na interação entre mães e filho(a)s). A dopamina, responsável pela sensação de prazer, e a serotonina, que traz calma, melhora do sono e felicidade, também são liberadas, assim como as endorfinas, que funcionam como analgésicos naturais, aumentando a tranquilidade”, falou Julio.
Adicionado a isso, o beijo ativa a região do sistema límbico, área do cérebro associada às emoções e à memória emocional, desempenhando um papel crucial no tratamento de indivíduos com doenças cognitivas, como o Alzheimer. Esta ativação não se baseia na recuperação de memórias objetivas, mas sim na evocação de sentimentos positivos associados a experiências passadas. “Essa capacidade de despertar a memória emocional através de gestos de afeto, como beijos e abraços, pode oferecer conforto e promover o bem-estar em pacientes com demência”, prosseguiu Julio. Ele reforçou a importância do toque humano e da proximidade emocional no cuidado e na conexão com aqueles que enfrentam limitações cognitivas.
Margarethe aponta, ainda, a sensação de acolhimento e pertencimento, a melhora da autoestima, assim como o auxílio na melhora da ansiedade e depressão como fatores positivos. “Beijos afetuosos possibilitam uma gama de sensações e sentimentos benéficos, sendo um bom coadjuvante na melhoria e manutenção da qualidade de vida das pessoas”, informou a psicóloga.
Ademais, Julio discorreu sobre a linguagem não verbal na expressão de afeto, especialmente em contextos de doença ou sofrimento. “A complexidade das relações humanas é multifatorial, e o beijo entra como a linguagem não verbal do afeto, ajudando a estabelecer uma conexão mais profunda entre as pessoas,” afirmou. Ele sugere que as formas de contato não verbal podem ser particularmente eficazes em transmitir compaixão e apoio, muitas vezes de forma mais impactante. O cardiologista observa que tais gestos podem até reduzir a necessidade de intervenções farmacológicas em certos contextos, oferecendo conforto e alívio através da conexão emocional. “Essas intervenções não farmacológicas são fundamentais e podem ser muito significativas, especialmente quando palavras não são suficientes,” comunicou o professor.
A importância do contexto e do consentimento
Porém, Julio Cesar abordou um aspecto fundamental sobre o beijo, destacando que nem todos carregam efeitos positivos. “O beijo que faz mal é aquele não consentido ou culturalmente inadequado, o qual não transmite o significado de afeto esperado pela pessoa que o recebe,” explicou. Essa falta de sintonia não apenas desvia do propósito afetivo do beijo, mas também pode ativar áreas sensoriais do cérebro de forma negativa, levando a sentimentos de mal-estar. “É essencial que o beijo faça sentido para ambas as pessoas envolvidas, respeitando-se a individualidade e o contexto cultural de cada um. A empatia desempenha um papel crucial aqui, permitindo-nos entender o que é significativo para o outro,” complementou o cardiologista
Margarethe reforçou a ideia. “O beijo, como qualquer outra expressão de sentimentos, precisa ser respeitado. Isso implica na necessidade de desmistificar preconceitos e promover o respeito pelas diferentes formas de expressão,” afirmou. Segundo ela, a capacidade de demonstrar afeto de maneira respeitosa é fundamental para o bem-estar emocional e mental, enquanto preconceitos e tabus podem levar a um embotamento emocional e a possíveis adoecimentos. “Estabelecer conexões afetivas genuínas e respeitosas é crucial para ‘estar no mundo’ de uma maneira significativa, indo além da mera existência,” concluiu Margarethe, enfatizando a importância de acolher e compreender a diversidade nas manifestações de afeto.
Fonte: Assessoria de Imprensa Ebserh