A cenoura e o tomate continuam sendo os alimentos que mais encareceram no país neste ano, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA), considerado uma prévia da inflação oficial do país.
A expectativa é de que os preços só fiquem mais baixos nos próximos meses, entre maio e julho.
A alta da cenoura chegou a quase 200% no acumulado em 12 meses até abril, enquanto o tomate subiu 117% no mesmo período. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No caso da cenoura, a inflação continua sendo um reflexo das chuvas intensas que afetaram as principais plantações do país em janeiro e fizeram com que o volume do alimento vendido pelos produtores diminuísse. Com isso, o quilo passou a ser encontrado por R$ 10 a R$ 14.
Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo, que são grandes produtores, foram os mais prejudicados. São Gotardo (MG), que é um dos principais municípios que abastecem o mercado nacional, teve prejuízo devido à chuva nos meses de janeiro e fevereiro.
Outro motivo foi o descarte de cenouras após a colheita, já que a umidade no solo deixou o alimento úmido e impróprio ao consumo, além de causar doença nas raízes. Com menos oferta, o preço seguiu em alta.
Contudo, o produtor já encontra preços mais baixos desde o início de abril. E a redução pode ser explicada pela regulação da oferta e um longo período de alta que não foi absorvido no mercado, diz a pesquisadora Marina Marangon, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
“O cenário de preços pagos ao produtor mostra queda, então isso pode favorecer o consumidor também. Só que tem a questão do que vai ser repassado ou não nos canais de venda. Uma estimativa não posso afirmar com certeza, mas como já está caindo o preço há umas três semanas [para o produtor] logo deve aliviar o consumidor, sim”, diz.
Toshiyuki Mishima, que está à frente de uma empresa de beneficiamento de cenoura há mais de 20 anos, em Piedade (SP), confirma a leve melhora dos preços em abril. Ele compra a cenoura “suja” da roça, lava, faz a seleção e embala para revender aos mercados.
“Mês passado ainda estava sendo vendida a caixa de 29 quilos por R$ 130, R$ 140. Agora, estou achando por R$ 70 e até R$ 50. Tem melhorado para a gente, mas no mercado demora um pouco para refletir. Acredito que nos próximos meses o consumidor já encontra a variação do quilo entre R$ 5,99 e R$ 10”, afirmou.
Mishima ressalta que a oferta de cenoura tende a ser maior no inverno, o que ajuda a melhorar os valores.
“Geralmente a produção aumenta. Então, se tivermos uma maior oferta de cenoura, teremos preços melhores. Única observação é que o clima é imprevisível. Mas torcemos para que o preço não siga mais em alta como no início do ano”, diz.
A colheita do tomate também continua menor desde que chuvas intensas no início do ano geraram perdas nas plantações, afetando os produtores do Sudeste e do Nordeste. Com isso, os preços se mantêm em alta, explica o pesquisador João Paulo Deleo, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).
Deleo destaca também que a área plantada de tomate vem diminuindo desde 2020 porque, no início da pandemia, os produtores perderam vendas com o fechamento do comércio e decidiram diminuir a área de plantio.
Eles continuaram a fazer este movimento em 2021, mas por outro motivo: em março daquele ano, a colheita foi abundante e derrubou os preços ao produtor. Para recuperarem faturamento, decidiram reduzir ainda mais a área e isso refletiu nos preços.
Outro fator é o fim da safra de verão e início da de inverno, que ocorre em abril no Sul e Sudeste. Nessa época, costuma-se colher bem pouco tomate.
“Os preços tendem a recuar entre julho e setembro, à medida que a safra de inverno avança”, diz Deleo.
Nas regiões Sul e Sudeste, onde é mais forte a produção de tomate, a safra de inverno ocorre entre os meses de abril a novembro, enquanto a de verão vai de dezembro a março.
Fonte: G1
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