03/06/2025
Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos, fala neste artigo sobre o Dia da Imprensa

Dia da Imprensa

Bom Dia SC – Preliminarmente, o Dia da Imprensa se comemora no Brasil em 1º de junho, data escolhida em homenagem à circulação do primeiro número do Correio Braziliense, em 1808, fundado por Hipólito José da Costa. Embora o Gazeta do Rio de Janeiro tenha sido o primeiro jornal publicado em solo brasileiro, algumas semanas antes, foi o Correio Braziliense, impresso em Londres e distribuído clandestinamente no Brasil, que se consolidou como símbolo da liberdade de expressão e da crítica ao poder estabelecido.

A escolha dessa data, portanto, representa mais do que uma lembrança histórica: trata-se de um marco simbólico da luta por uma imprensa livre, crítica e comprometida com a verdade. A trajetória da imprensa no Brasil está profundamente entrelaçada com os momentos mais decisivos da história nacional. Desde o período colonial, quando a instalação de gráficas era proibida por Portugal, até os tempos modernos, marcados por intensas transformações tecnológicas, a imprensa sempre exerceu um papel central na formação da opinião pública, na denúncia de injustiças e na construção da democracia. Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, houve uma abertura política que permitiu, pela primeira vez, a impressão de jornais.

Isso posto, o ambiente não era propício à plena liberdade de imprensa. A censura persistia, e os periódicos que circulavam em território nacional eram, em grande parte, controlados pelo governo. Foi nesse contexto que o Correio Braziliense se destacou. Produzido fora do alcance direto da censura lusitana, o jornal de Hipólito da Costa desempenhou um papel decisivo na difusão das ideias iluministas e no incentivo ao debate político entre as elites brasileiras. Ao longo do século XIX, com a Independência e posteriormente a proclamação da República, a imprensa consolidou-se como espaço de disputa ideológica, de denúncia e de engajamento.

Destarte, jornais influentes da época serviram tanto a interesses liberais quanto conservadores, mas todos tiveram importância na mediação entre os poderes públicos e a sociedade. A imprensa passou a ser vista como o “quarto poder”, responsável por fiscalizar os atos do Estado e garantir que a população tivesse acesso à informação. No entanto, essa liberdade nunca foi plena nem garantida.

O século XX foi marcado por períodos de grande repressão à imprensa, sobretudo durante os anos da ditadura militar, entre 1964 e 1985. A censura oficial, os cortes nas redações, as prisões de jornalistas e o fechamento de veículos de comunicação marcaram profundamente a “performance” da imprensa naquele período. Ainda assim, surgiram alternativas valentes e criativas, como os jornais Opinião, Movimento e O Pasquim, que, mesmo sob vigilância constante, encontravam formas de questionar o regime e manter viva a chama do jornalismo crítico.

De outro vértice, com a redemocratização, a Constituição de 1988 garantiu formalmente a liberdade de imprensa e de expressão. A nova ordem democrática trouxe consigo um ambiente mais propício ao exercício do jornalismo investigativo, ao pluralismo de ideias e à valorização do papel do jornalista como agente essencial da cidadania. No entanto, os desafios não desapareceram.

Nos últimos anos, sobretudo com o avanço das redes sociais e da polarização política, a imprensa brasileira tem enfrentado ataques sistemáticos à sua credibilidade. Campanhas de desinformação, discursos de ódio, ameaças e agressões a jornalistas tornaram-se frequentes.. A facilidade de acesso à internet permitiu a proliferação de conteúdos, mas também abriu caminho para a disseminação de notícias falsas, teorias conspiratórias e campanhas coordenadas de manipulação.

Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos, fala neste artigo sobre o Dia da Imprensa

Nesse contexto, o jornalismo profissional tem o desafio de reafirmar sua relevância e seus valores fundamentais: checagem rigorosa dos fatos, diversidade de fontes, compromisso com a verdade e responsabilidade ética. A crise do modelo de negócios dos meios de comunicação tradicionais, agravada pela migração da publicidade para plataformas digitais, também representa um obstáculo importante. Muitas redações foram reduzidas, jornalistas foram demitidos, e veículos tradicionais enfrentam dificuldades financeiras para manter operações independentes e de qualidade.

Entrementes, surgem iniciativas inovadoras, baseadas em assinaturas, financiamento coletivo e colaborações com instituições de pesquisa e universidades, apontando para caminhos possíveis de sustentabilidade. A valorização do jornalismo local, a aposta em conteúdos especializados e a incorporação de tecnologias como jornalismo de dados, inteligência artificial e narrativas multimídia mostram que a imprensa está em transformação, buscando adaptar-se às novas demandas do público sem renunciar a sua função essencial.

O papel social do jornalista, nesse cenário, torna-se ainda mais crucial. Em tempos de crise de confiança e de abundância de informações desencontradas, o jornalista é, antes de tudo, um mediador entre o fato e a sociedade, entre o que ocorre e o que importa. A responsabilidade de contextualizar os acontecimentos, dar voz aos que não têm espaço, denunciar abusos e promover o debate público é maior do que nunca. Para isso, é necessário garantir condições de trabalho, segurança física e jurídica, formação constante e valorização profissional.

Dia da Imprensa mais que uma data comemorativa

O Dia da Imprensa, portanto, é mais do que uma data comemorativa. É um momento de reflexão sobre o valor da liberdade de expressão, o papel da mídia na construção da democracia e os riscos que ameaçam esse ecossistema tão essencial à vida em sociedade. Defender a imprensa livre é defender o direito à informação, a pluralidade de vozes e o fortalecimento da cidadania. Numa época em que a verdade está em disputa e o autoritarismo espreita pelas bordas do discurso público, apoiar o jornalismo é um ato de resistência democrática.

Em epítome, esta efeméride deve lembrar, todos os anos, de que uma sociedade bem-informada é uma sociedade mais justa, mais crítica e, sobretudo, mais livre.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

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