Dos cariocas e baianos, dos trilhos de trem da Estação Herval, às telas do cinema, através do cineasta Rogério Sganzerla
O samba é o ritmo propulsor da cultura do meio-oeste catarinense. Quando baianos e cariocas por aqui chegaram, na época da construção da estação Herval, talvez não imaginassem a revolução que fariam por aqui.

Na revolução sem armas, o batuque é o fio condutor que gera espetáculos que transformam a Avenida Central do município de Joaçaba em um verdadeiro Sambódromo das escolas Vale Samba, Acadêmicos do Grande Vale e Unidos do Herval. Espetáculos que misturam descendentes de italianos, alemães, caboclos, indígenas e afrodescendentes.
Joaçaba, hoje conhecida como a Capital Catarinense do Carnaval, divide com a vizinha Herval d’ Oeste a responsabilidade de manter viva a herança trazida pelos trilhos do trem.

Rogério Sganzerla
E é esse batuque que talvez tenha encantado lá atrás Rogério Sganzerla, o joaçabense famoso das produções cinematográficas.
Um detalhe que chama a atenção nas suas fitas de cinema (chamadas de marginais) é a sua relação com a música – ou com os músicos – Noel Rosa, João Gilberto, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethania, Hans Joachim Koellreutter, todos personagens das fitas que estarão na Mostra. Além de Arrigo Barnabé, Luiz Gonzaga e outros destacados em outras fitas.
E é a travessia do joaçabense menino, que se transformou em referência para os cinéfilos, sua obra pronta e a trilha que ele tanto se identificava que estarão sendo debatidos na I Mostra Fita de Cinema, as músicas nas fitas de Rogério Sganzerla que acontece em sua terra natal de 4 a 7 de maio.
Dia 4 de maio será a abertura da Mostra, no Parque Municipal Orestes Bonato, com show e exibição de vídeos. Dia 5, 6 e 7, exibição de das fitas de cinema e debates, a partir das 19 horas, no Teatro Alfredo Sigwalt . Além disso, oficinas online e presenciais. Inscrições e informações pelo site www.mostrafita.com.br. Toda a programação da Mostra é gratuita – exibições e oficinas.O projeto foi contemplado pelo Prêmio Catarinense de Cinema 2023 – Edição Especial Lei Paulo Gustavo (LPG).

Filme Tudo é Brasil
A essência da música popular brasileira e da paixão pelo Brasil e até pelo Carnaval está retratada na fita de Rogério Sganzerla Tudo é Brasil (1997). Na época do seu lançamento, a fita foi mais compreendida mais como uma paixão de Rogério Sganzerla por Orson Welles. Porém vendo mais de perto, a fita se transforma completamente: Tudo É Brasil é o filme mais político, mais emocionante, mais bonito e mais perfeito que o Brasil deu na década de 90, uma comovente saga de um estrangeiro por um país exótico, perigoso, divino e maravilhoso

A palavra saga não é aqui uma metáfora. Na década em que se apelou para o exterior, em que o Brasil olhou para fora para tentar se encontrar, Sganzerla fez um filme em que o estrangeiro é que olha para o Brasil para ver as belezas que ele tem. Claro, a intriga é mais complexa: envolve a posição do artista com os grandes estúdios, a questão da liberdade artística, a vida de um gênio, mas “Tudo É Brasil” é acima de tudo uma antropologia da antropologia do Brasil.
Radicalizando o processo de deglutição de tudo que é estrangeiro caro a Oswald de Andrade e os concretistas (Campos e Pignatari), Sganzerla filma o olhar que deita Orson Welles sobre um Brasil comovente e vivo, feito mais de pessoas e costumes do que de paisagens e lugares-comuns.
É apenas dessa forma que o cinema brasileiro dos anos 90 pode filmar o Brasil. Com o clamor nacional por um “papel mundial”, pela relação do Brasil com o mundo globalizado, redescobrir o Brasil era a coisa mais impossível. É isso o que permite Sganzerla traçar a estratégia de olhar o país a partir dos olhos de um outro, de um estrangeiro privilegiado que é Orson Welles.
A partir do olhar do “gênio”, do gigante que mudou a história do cinema com sua primeira fita e acabava de terminar o segundo, Sganzerla pinta na tela a mais bonita Aquarela do Brasil que já foi filmada no país — música que, por acaso, ele já havia filmado nas gravações do disco Brasil de João GIlberto em companhia de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia – que é parte desta Mostra.
Fonte: Assessoria de Imprensa

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