Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos - Jornalista
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Universidade comunitária executora do desenvolvimento regional

Em primeiro lugar, a universidade comunitária emerge no “status” agente estratégico na promoção do desenvolvimento regional, articulando ensino, pesquisa e extensão de maneira sinérgica às necessidades e potencialidades locais. Distinta das instituições de ensino superior públicas e privadas com fins lucrativos, a universidade comunitária fundamenta-se em princípios de solidariedade, inclusão social, democratização do saber e corresponsabilidade com o território em que está inserida.

Destarte, seu modelo de gestão, voltado à coletividade e ao interesse público, possibilita um enraizamento orgânico nas demandas sociais, econômicas e culturais da região, consolidando seu papel como catalisadora de transformações sustentáveis e duradouras.

Historicamente, essas instituições surgem como resposta à ausência do Estado em determinadas regiões e à incapacidade do setor privado de atender, de forma justa e equitativa, à população local. Seu crescimento está atrelado à interiorização do ensino superior no Brasil, especialmente a partir das décadas de 1970 e 1980, quando a expansão universitária não acompanhava o ritmo de desenvolvimento e urbanização dos municípios médios e pequenos.

Neste contexto, a universidade comunitária se configura como alternativa legítima de acesso à educação de qualidade, e, simultaneamente, como promotora de cidadania ativa e emancipatória.

O conceito de desenvolvimento regional, por sua vez, compreende mais do que o crescimento econômico. Envolve uma abordagem integrada de progresso que considera variáveis como distribuição de renda, qualidade de vida, preservação ambiental, cultura, infraestrutura e participação social.

Destarte, quando se fala em execução do desenvolvimento regional por parte da universidade comunitária, está-se reconhecendo sua capacidade de atuar como sujeito histórico e político na promoção de políticas públicas, na incubação de projetos sociais, na inovação tecnológica e no fortalecimento do capital humano e social da região.

De outro vértice, a práxis extensionista se configura em uma das principais vias de atuação das universidades comunitárias. Por meio de programas e projetos de extensão, estas instituições desenvolvem ações voltadas à agricultura familiar, à saúde comunitária, à economia solidária, à educação básica e profissional, à cultura popular, ao empreendedorismo local e à inclusão digital. Essa atuação extrapola os muros da universidade e reconecta o saber acadêmico ao saber popular, promovendo trocas que fortalecem tanto a formação discente quanto a cidadania ativa.

Ademais disso, a extensão atua como ponte para a formulação de políticas públicas que respondem às reais necessidades da população regional.

Na pesquisa, a universidade comunitária demonstra sua relevância ao direcionar seus esforços investigativos para problemas locais com impacto regional. A constituição de núcleos de pesquisa aplicada e de centros de inovação tecnológica favorece a criação de soluções voltadas ao desenvolvimento territorial sustentável.

Exemplo disso reside nos projetos em energias renováveis, manejo sustentável dos recursos naturais, saúde preventiva, políticas educacionais inclusivas e planejamento urbano participativo. Ao gerar conhecimento contextualizado, a pesquisa acadêmica fortalece a autonomia da região e evita a dependência de soluções importadas que, muitas vezes, não consideram as especificidades do território.

Outro fator crucial é a formação profissional crítica e comprometida com o entorno. A universidade comunitária forma sujeitos com competências técnicas, éticas e políticas, preparados para intervir de forma transformadora na realidade social. Por meio de currículos integradores, que articulam teoria e prática com foco na região, os egressos dessas instituições tendem a permanecer em suas comunidades, gerando um ciclo virtuoso de fortalecimento local. Além disso, o envolvimento de estudantes em projetos de extensão e pesquisa proporciona uma formação cidadã e empática, fundamental para uma atuação profissional alinhada ao bem comum.

No campo da governança, a universidade comunitária apresenta um diferencial importante: a participação efetiva da comunidade na gestão institucional. Conselhos deliberativos compostos por representantes da sociedade civil, do poder público e do setor produtivo garantem que as decisões estejam ancoradas nas reais demandas da população. Essa gestão compartilhada contribui para uma maior legitimidade institucional e para a construção de estratégias de desenvolvimento mais coerentes com as necessidades regionais.

Não se pode ignorar, entretanto, os reptos adversados por essas instituições. O financiamento público ainda é insuficiente e desigual, o que compromete a sustentabilidade de muitos projetos sociais e acadêmicos.

A par dissp, a crescente mercantilização da educação superior impõe pressões competitivas que ameaçam a missão comunitária. Para manter sua identidade e relevância, é fundamental que haja políticas públicas específicas de fomento às universidades comunitárias, reconhecendo seu papel estratégico no desenvolvimento regional. A valorização dessas instituições deve passar por uma política de financiamento estável e continuado, que permita a expansão da oferta educacional, a melhoria da infraestrutura e a consolidação de uma rede de cooperação regional.

Outro aspecto relevante refere-se à necessidade de uma maior articulação em rede entre as universidades comunitárias e os diversos atores locais: associações civis, cooperativas, movimentos sociais, secretarias municipais, micro e pequenas empresas, entre outros. A atuação em rede amplia o alcance das ações, promove sinergias e evita a fragmentação de esforços.

Outrossim, permite a troca de experiências exitosas e a criação de agendas conjuntas para o desenvolvimento, fortalecendo a cultura de colaboração e corresponsabilidade entre universidade e comunidade.

Em epítome, a universidade comunitária tem se afirmado como um dos principais vetores de desenvolvimento regional no Brasil, especialmente em áreas historicamente negligenciadas por outras esferas do ensino superior. Sua atuação compromissada com os valores da inclusão, da justiça social e da sustentabilidade a torna uma instituição estratégica na execução de políticas e práticas voltadas à transformação territorial.

 Para tanto, em epítome, faz-se mister o reconhecimento efetivo de seu papel, não apenas por meio de discursos, mas de ações concretas que garantam as condições institucionais para que continue sendo um instrumento de desenvolvimento com equidade e participação.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

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