Em preliminar, a exposição Os Umanos, de Daniel Pardal Monteiro, apresenta uma proposta instigante ao desafiar as convenções sobre identidade e existência por meio de suas figuras atemporais e destituídas de limites rígidos.
Ao subtrair o “H” de “homem”, o artista não apenas sugere um novo conceito de humanidade, mas também amplia a noção do ser como uma entidade universal, desvinculada de rótulos e classificações pré-determinadas.
Suas obras transitam entre o surreal e o onírico, criando um jogo visual que questiona a percepção da realidade e convida o espectador a refletir sobre sua própria existência.
O uso de formas que giram num movimento contínuo reforça a ideia de uma condição humana sem começo nem fim, sugerindo uma fusão entre o tangível e o imaginário.
A intersecção entre sonho e realidade se manifesta na construção dessas figuras, que parecem flutuar em um espaço indefinido, como se estivessem presas em um ciclo eterno de transformação.
Essa desconstrução da identidade humana promovida por Pardal Monteiro ressoa com questões filosóficas e existenciais que ultrapassam os limites da arte e tocam diretamente o pensamento contemporâneo. Ao remover os traços que individualizam o ser, o artista propõe uma humanidade que não se define por aspectos físicos ou sociais, mas sim por sua essência e sua conexão com o todo. Essa abordagem desperta no público um misto de fascínio e estranhamento, levando à reflexão sobre os conceitos de pertencimento, alteridade e fluidez identitária.
Ademais da carga simbólica presente nas formas representadas, a materialidade da obra também desempenha um papel essencial na experiência estética. A escolha de cores, texturas e composições sugere um dinamismo que reforça a ideia de movimento contínuo, como se essas figuras nunca estivessem completamente formadas ou fixadas em um único estado. Esse caráter transitório reflete a própria condição humana, marcada pela impermanência e pela transformação constante.
De outro vértice, Os Umanos extrapola os limites da pintura e da escultura, tornando-se uma experiência imersiva que convida à introspecção e ao questionamento. Ao desafiar o espectador a enxergar além do visível e a abandonar categorias rígidas de compreensão, a exposição não apenas impressiona visualmente, mas também provoca um impacto profundo na forma como percebemos a nós mesmos e aos outros.
Destarte, a exposição não apenas apresenta imagens, mas propõe uma experiência sensorial e filosófica, na qual o público se vê imerso em um universo simbólico que transcende os limites do que é visível e compreensível.
A par disso, a obra de Pardal se insere em uma tradição artística que explora o não-razoável e o impossível, ecoando elementos do surrealismo ao transformar o banal em fantástico.
Por conseguinte, trabalho provoca inquietação ao desconstruir a figura humana e dissolvê-la em um conceito mais amplo, onde a identidade individual se dilui em uma ideia coletiva de existência.
Em epítome, ao final, Os Umanos se configura reflexão poderosa sobre a ontologia humana na contemporaneidade, reptando nosso olhar e expandindo nossa compreensão sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca.
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Crítico de Arte

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