Inicialmente, a literatura serve à guisa de espelho da sociedade, refletindo e reinterpretando a realidade para que possamos entendê-la melhor. Dois mestres da literatura, Érico Verissimo e Honoré de Balzac, utilizaram seus talentos para capturar e retratar os contextos históricos de suas respectivas regiões. Enquanto Verissimo mergulha na história do Pampa Gaúcho, Balzac se dedica a pintar um retrato vívido da França do século XIX. Ambos, através de suas narrativas, fazem uma análise profunda das sociedades em que viveram, usando o romance como ferramenta para explorar e expor as complexidades de suas épocas.
Outrossim, Érico Veríssimo destacou-se como um dos principais cronistas da história brasileira, especialmente através de sua obra-prima, a série “O Tempo e o Vento”. Composta por três partes principais — “O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago” —, essa saga épica abrange cerca de duzentos anos da história do Rio Grande do Sul, com foco no Pampa Gaúcho. Verissimo utiliza essa região, rica em cultura e história, como pano de fundo para narrar a vida de várias gerações da família Terra Cambará.
Destarte, à guisa de exemplo, em “O Continente”, Veríssimo faz um mergulho profundo nas origens do estado, abordando eventos históricos significativos como a Revolução Farroupilha. Ele entrelaça esses eventos históricos com as vidas e dramas pessoais de seus personagens, criando um relato vívido de como esses momentos impactaram a vida cotidiana dos habitantes locais. A riqueza de detalhes em sua narrativa não apenas ilustra o cenário físico do Pampa, mas também revela a complexidade das relações sociais e políticas da época.

De sua parte, Honoré de Balzac, um gigante da literatura francesa, criou uma obra monumental conhecida como “A Comédia Humana”. Composta por mais de noventa romances e contos interconectados, Balzac pinta um quadro abrangente da sociedade francesa durante a Restauração e a Monarquia de Julho. Assim como Verissimo, Balzac utiliza personagens complexos para ilustrar as forças sociais, políticas e econômicas que moldaram a França do século XIX.
Em obras como “Ilusões Perdidas” e “Pai Goriot”, Balzac explora a luta de classes, a ascensão e queda social, e as complexas redes de ambição e corrupção que permeavam a sociedade francesa. Ele retrata a França em transformação, com seus avanços industriais e sociais, de forma quase jornalística, detalhando as nuances dos diferentes estratos sociais com precisão cirúrgica.
Tanto Verissimo quanto Balzac utilizam suas obras para oferecer uma crítica social detalhada, capturando a essência de suas respectivas sociedades e oferecendo “insights” sobre as forças históricas que as moldaram. Verissimo, através do Pampa Gaúcho, e Balzac, com sua França multifacetada, abordam temas universais como poder, identidade e mudança social. Eles compartilham uma habilidade única de usar suas narrativas para iluminar as verdades de suas épocas, transportando o leitor para dentro de seus mundos ficcionais.
Enquanto Verissimo oferece ao leitor uma janela para a formação do Brasil moderno, Balzac faz o mesmo para a França, criando uma tapeçaria rica e detalhada da vida de seus tempos. A comparação entre os dois revela como a literatura pode ser uma ferramenta poderosa para a compreensão histórica e social, mostrando que, independentemente da localização geográfica, as experiências humanas são muitas vezes universais.
Em epítome, Érico Verissimo e Honoré de Balzac, cada um à sua maneira, utilizam a ficção para oferecer uma perspectiva histórica única de suas culturas. Eles transformam o romance em um meio não apenas de entretenimento, mas também de reflexão e análise crítica, mostrando como a literatura pode transcender o tempo e o espaço para oferecer uma visão mais clara das complexidades humanas.
Por final, assim como Balzac é lembrado por seu retrato da França do século XIX, Verissimo permanecerá na memória como o cronista da alma e história do Pampa Gaúcho.
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Crítico de Arte

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