Isagogicamente, a Pós-Modernidade, enquanto período cultural e filosófico que se seguiu à modernidade, trouxe consigo uma série de transformações profundas nas esferas social, econômica e, especialmente, nas manifestações artísticas. Uma das características mais marcantes desse período é a interseção entre arte e tecnologia, que não apenas redefine a produção artística, mas também questiona os limites do que entendemos por “arte”.
Outrossim, a arte na Pós-Modernidade se distingue por seu caráter fragmentado e pluralista, o que reflete a própria natureza desse período. As grandes narrativas da modernidade, que buscavam uma verdade universal e uma forma de arte que transcendesse o tempo e o espaço, são substituídas por uma multiplicidade de discursos, estilos e formas de expressão. Nesse contexto, a tecnologia emerge não apenas como uma ferramenta, mas como um elemento intrínseco ao processo criativo.
Destarte, com o advento das tecnologias digitais, a arte se reinventa e passa a explorar novas possibilidades expressivas. A fotografia, o cinema, e, mais recentemente, as mídias digitais e a internet, abriram caminho para experimentações que desafiam as noções tradicionais de originalidade e autenticidade. Obras que integram vídeo, som, interatividade e simulações digitais tornam-se corriqueiras, evidenciando uma ruptura com o suporte tradicional e sugerindo novas formas de percepção estética.
Artistas como Nam June Paik, conhecido por suas instalações de vídeo, e Cindy Sherman, que utilizou a fotografia para questionar identidades e estereótipos, exemplificam como a tecnologia se tornou central na produção artística pós-moderna. A obra de Paik, por exemplo, não poderia existir sem a televisão, o vídeo e outros dispositivos eletrônicos que ele manipulava para criar uma linguagem artística própria. Da mesma forma, a fotografia de Sherman, que inicialmente utilizava recursos analógicos, evoluiu para incorporar técnicas digitais, ampliando as possibilidades de sua crítica social e cultural.
A internet, em particular, desempenha um papel revolucionário ao democratizar o acesso à arte e possibilitar novas formas de produção e distribuição. Surgem novas categorias de arte, como a net art, que se utiliza da rede mundial de computadores como plataforma de criação e exposição. Nessa modalidade, as fronteiras entre o artista e o espectador são borradas, permitindo interações que antes eram impensáveis. O conceito de autoria também é questionado, já que muitos desses trabalhos são colaborativos e envolvem a participação direta do público.
Ademais disso, o uso de algoritmos e inteligência artificial na criação artística levanta questões sobre a natureza da criatividade e da subjetividade na arte. O trabalho de artistas que utilizam IA, como o coletivo Obvious, que criou o famoso retrato “Edmond de Belamy”, vendido em leilão por uma quantia significativa, ilustra como a tecnologia pode não apenas auxiliar, mas também desafiar a figura do artista tradicional. A partir desse ponto, surgem debates sobre a originalidade e o papel do ser humano na criação artística, questionando se a arte gerada por máquinas pode ser considerada arte na essência.
Entretanto, essa estreita relação entre arte e tecnologia na pós-modernidade não é isenta de críticas. Alguns argumentam que a dependência da tecnologia pode desumanizar a arte, transformando-a em um produto frio e sem alma. Outros veem na tecnologia uma forma de alienação, onde o fascínio pelos gadgets e pelas novas mídias pode levar a um distanciamento das questões humanas fundamentais que a arte tradicionalmente aborda.
Conquanto as críticas, configura-se inegável que a tecnologia proporciona uma ampliação sem precedentes das possibilidades criativas. Na Pós-Modernidade, a arte se expande para além dos museus e galerias, infiltrando-se no cotidiano através de dispositivos móveis, redes sociais e plataformas digitais. A arte, portanto, torna-se mais acessível e interativa, refletindo as dinâmicas de um mundo cada vez mais interconectado e digitalizado.
À guisa de conclusão, a relação entre arte e tecnologia na pós-modernidade é complexa e multifacetada. Se, por um lado, a tecnologia desafia as noções tradicionais de arte, por outro, ela oferece novas ferramentas e linguagens para expressar as angústias, dilemas e esperanças do ser humano no século XXI.
Por final, nesse sentido, a arte pós-moderna, ao integrar a tecnologia, não apenas reflete as transformações da sociedade contemporânea, mas também contribui para moldar o futuro da cultura e da própria condição antrópica.
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Crítico de Arte