30/05/2025
Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos fala neste artigo sobre os desafios do BNDES

BNDES e os relevantes desafios

BNDES se apresenta como uma ferramenta de política pública voltada à correção das deficiências de mercado

Bom Dia SC – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) constitui um dos principais instrumentos da política econômica do Estado brasileiro voltado à promoção do desenvolvimento nacional. Criado em 1952, durante o governo de Getúlio Vargas, o BNDES surgiu como uma resposta à necessidade de financiamento de longo prazo para impulsionar a industrialização do país. Desde então, o banco tem desempenhado papel estratégico na estruturação de setores produtivos, infraestrutura e inovação tecnológica, consolidando-se como agente fundamental para o crescimento sustentado da economia brasileira.

Historicamente, o Brasil enfrentou limitações estruturais que dificultaram a acumulação de capital e a expansão de sua base industrial de forma autônoma. A ausência de um sistema financeiro voltado ao financiamento de longo prazo, aliado à elevada vulnerabilidade externa, tornou imperativo o papel de uma instituição pública robusta e com capacidade de financiamento anticíclico. Nesse contexto, o BNDES se apresenta como uma ferramenta de política pública voltada à correção das deficiências de mercado, promovendo investimentos em áreas estratégicas que, muitas vezes, não atraem capital privado em virtude de seus longos prazos de maturação ou risco elevado.

Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos fala neste artigo sobre os desafios do BNDES

BNDES protagonista do desenvolvimento

Ao longo das décadas, o BNDES atuou com protagonismo em diversos ciclos de desenvolvimento. Durante os anos 1960 e 1970, por exemplo, foi essencial no processo de substituição de importações e na consolidação de setores industriais de base, como siderurgia, petroquímica e energia. Já nos anos 2000, ampliou sua atuação nos segmentos de infraestrutura e inovação, ao mesmo tempo em que se buscava um novo paradigma de desenvolvimento, mais inclusivo e sustentável. Em todos esses momentos, a lógica de funcionamento do banco esteve alinhada ao planejamento estatal, com vistas a potencializar os efeitos multiplicadores dos investimentos públicos e privados.

O modelo operacional do BNDES se fundamenta no financiamento de projetos por meio de condições diferenciadas, com taxas de juros subsidiadas e prazos alongados. Isso confere ao banco a capacidade de fomentar investimentos que seriam inviáveis sob as condições de mercado tradicional, especialmente em setores de baixa atratividade imediata para o capital financeiro. Essa lógica se apoia na concepção de que o Estado deve atuar como indutor do desenvolvimento, provendo os meios para que o setor produtivo nacional se fortaleça e ganhe competitividade. Adicionalmente, o BNDES também opera por meio de participações societárias, fundos de investimento, garantias e outros mecanismos que visam catalisar recursos privados.

Entretanto, o papel desenvolvimentista do BNDES não se opera sem controvérsias. A concessão de crédito subsidiado a grandes empresas – especialmente conglomerados nacionais com forte capacidade de financiamento próprio – tem sido alvo de críticas recorrentes. Argumenta-se que tal política distorce a concorrência e favorece determinados grupos econômicos em detrimento de pequenas e médias empresas. Além disso, há questionamentos quanto à transparência e aos critérios de seleção dos projetos apoiados. Essas críticas ganharam força a partir da década de 2010, quando o banco passou por um processo de revisão de sua atuação, com maior ênfase em eficiência, governança e foco em políticas públicas de amplo alcance social.

Isto posto, é importante destacar que o BNDES cumpre funções que extrapolam a simples lógica de mercado. Em países em desenvolvimento, onde a formação de capital e a capacidade de investimento público são limitadas, bancos de fomento como o BNDES são instrumentos imprescindíveis para estruturar cadeias produtivas, reduzir desigualdades regionais e promover inovação. No caso brasileiro, o banco tem contribuído para a ampliação da infraestrutura logística, a modernização da matriz energética e o fortalecimento de políticas de desenvolvimento regional e socioambiental.

BNDES e o desenvolvimento

Mais recentemente, o BNDES tem buscado reposicionar sua atuação à luz dos desafios contemporâneos do desenvolvimento sustentável. A agenda de transição energética, combate às mudanças climáticas e promoção da economia verde passou a integrar o portfólio estratégico do banco, que tem se engajado em iniciativas voltadas ao financiamento de projetos de energia renovável, saneamento básico, mobilidade urbana e inclusão produtiva. Isso demonstra uma inflexão na atuação da instituição, cada vez mais orientada por princípios de impacto social, ambiental e governança (ESG).

Outro aspecto relevante diz respeito à crescente internacionalização da atuação do banco. Ao apoiar empresas brasileiras na realização de projetos em outros países, sobretudo na América Latina e na África, o BNDES também se torna instrumento de inserção internacional do Brasil, contribuindo para o fortalecimento das cadeias produtivas e da presença de empresas nacionais em mercados estratégicos. Essa atuação, no entanto, requer equilíbrio entre interesses geopolíticos, retorno econômico e responsabilidade social.

Por conseguinte, o BNDES representa um dos pilares da política de desenvolvimento do Estado brasileiro. Sua existência e funcionamento traduzem a opção por um modelo em que o Estado não se limita à regulação do mercado, mas atua diretamente na indução do crescimento, correção de falhas estruturais e promoção de objetivos sociais mais amplos. Embora o banco esteja sujeito a críticas e reformulações, sua relevância como instrumento desenvolvimentista permanece inconteste, sobretudo diante dos desafios da reindustrialização, da inclusão produtiva e da transição para uma economia mais verde e resiliente.

Em epítome, o futuro do BNDES, nesse sentido, dependerá de sua capacidade de se adaptar às novas demandas da sociedade e de manter sua missão pública em um ambiente econômico cada vez mais dinâmico e complexo.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter
Email
LinkedIn

Notícias Relacionadas