02/07/2025
Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos, fala neste artigo sobre Árabes, Chineses e Persas – Três culturas milenares

Árabes, Chineses e Persas – Três culturas milenares

Três povos cujos legados permanecem vivos e influentes até hoje: os árabes, os chineses e os persas

Bom Dia SC – Em primeiro lugar, a história da humanidade se constitui profundamente marcada pelas civilizações milenares que moldaram, com saberes e tradições singulares, o mundo em que vivemos. Entre essas, destacam-se três povos cujos legados permanecem vivos e influentes até hoje: os árabes, os chineses e os persas. Cada um deles desenvolveu, ao longo dos séculos, culturas ricas, sistemas filosóficos e científicos notáveis, bem como estruturas sociais e religiosas complexas. A revisão dos caminhos desses povos, compreendemos melhor não apenas o transato, mas também muitos aspectos do presente.

Destarte, a civilização árabe floresceu, sobretudo a partir do século VII, com a unificação das tribos da Península Arábica sob o Islã, fundado pelo profeta Maomé. No entanto, a cultura árabe possui raízes muito anteriores, ligadas a tradições nômades, à poesia oral e ao comércio de caravanas pelo deserto. Com a expansão islâmica, os árabes rapidamente estabeleceram um império que se estendia da Península Ibérica até a Índia, e com ele floresceu a chamada “Era de Ouro Islâmica”, que entre os séculos VIII e XIII testemunhou avanços extraordinários nas ciências, nas artes e na filosofia.

Durante esse período, cidades como Bagdá, Córdoba e Damasco tornaram-se centros intelectuais vibrantes. Os árabes não apenas preservaram o conhecimento grego e romano, como também o ampliaram em áreas como matemática (com destaque para a álgebra), astronomia, medicina e filosofia. Figuras como Avicena (Ibn Sina) e Averróis (Ibn Rushd) foram cruciais na transmissão e transformação desse saber. A cultura árabe também brilhou na literatura — com obras como “As Mil e Uma Noites” —, na arquitetura, com as cúpulas e arabescos dos palácios e mesquitas, e no comércio, que ajudou a interligar o mundo afro-euro-asiático.

De outro passo, a civilização chinesa remonta a mais de 4.000 anos, com as primeiras dinastias registradas, como a Xia e a Shang. Ao longo dos milênios, a China desenvolveu uma das culturas mais coesas e duradouras da história, pautada por sistemas éticos e filosóficos profundamente influentes, como o confucionismo, o taoísmo e, posteriormente, o budismo. A dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.) consolidou muitas das características que definiriam a identidade chinesa, como a centralização do poder, os exames imperiais baseados no mérito e a valorização da erudição.

Outrossim, a China antiga também foi berço de inovações tecnológicas e científicas surpreendentes. A invenção da bússola, do papel, da pólvora e da imprensa de tipos móveis transformaria o mundo. Durante a dinastia Tang (618–907) e, depois, a Song (960–1279), a cultura chinesa viveu momentos de esplendor: floresceu a pintura de paisagem, a poesia (com nomes como Li Bai e Du Fu), e a organização urbana das cidades ganhou sofisticação. O Confucionismo influenciou profundamente a estrutura familiar, a política e o senso de dever coletivo, moldando uma civilização centrada na harmonia social e na autoridade moral.

Em paralelo, a civilização persa — localizada na região que hoje corresponde principalmente ao Irã — consolidou-se como um dos mais importantes impérios da Antiguidade e da Idade Média. A partir do século VI a.C., com o Império Aquemênida fundado por Ciro, o Grande, os persas estabeleceram um modelo administrativo inovador, baseado na tolerância cultural e na divisão de satrapias (províncias). Esse império abrigou povos de diferentes etnias e religiões, criando um modelo multicultural antes mesmo da palavra existir.

Com sucessores como Dario e Xerxes, os persas desenvolveram uma rede de estradas e correios, além de uma moeda única, o que facilitava o comércio e a governança. O zoroastrismo, religião fundada por Zaratustra, pregava a dualidade entre o bem e o mal e influenciou conceitos posteriormente incorporados por outras tradições religiosas. Após a conquista islâmica da Pérsia no século VII, a cultura persa não desapareceu — pelo contrário, fundiu-se com a cultura árabe, mas preservou sua identidade e continuou contribuindo para a literatura, a arte e o pensamento islâmico. Poetas como Rumi, Ferdusi e Hafez marcaram a literatura mundial com suas obras líricas e filosóficas.

Adelcio Machado dos Santos
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos, fala neste artigo sobre Árabes, Chineses e Persas – Três culturas milenares

Três culturas que dialogam ao longo da história

Importa destacar que essas três culturas, embora distintas, dialogaram ao longo da história por meio das rotas comerciais, das guerras e das trocas intelectuais. A Rota da Seda, por exemplo, conectava a China ao mundo árabe e persa, promovendo intercâmbios que iam além das mercadorias: conhecimentos astronômicos, técnicas de cultivo, remédios, crenças religiosas e ideias filosóficas circulavam por essas rotas. Esse entrelaçamento moldou parte da civilização eurasiática e plantou as sementes daquilo que hoje chamamos de globalização.

Cada uma dessas civilizações contribuiu com uma visão de mundo complexa, integradora e profunda. Os árabes, com sua valorização do saber e sua capacidade de síntese cultural; os chineses, com seu senso de continuidade histórica e ordem moral; e os persas, com sua poesia mística e organização imperial sofisticada, deixaram marcas indeléveis em áreas como a filosofia, a política, as ciências e a espiritualidade.

No mundo contemporâneo, a herança dessas culturas ainda se faz presente de múltiplas maneiras. A arquitetura islâmica, a culinária chinesa, a poesia persa, a caligrafia árabe, os princípios confucionistas de respeito à hierarquia e os valores éticos zoroastrianos ainda influenciam sociedades inteiras, tanto no Oriente quanto no Ocidente. Ao estudar essas civilizações milenares, somos convidados não apenas a admirar seus feitos, mas também a refletir sobre as raízes culturais da humanidade e sobre o valor da diversidade na construção de um mundo mais justo e plural.

Em epíome, em tempos de conflitos geopolíticos e tensões culturais, recordar a riqueza dessas tradições milenares pode ser um antídoto contra o preconceito e a ignorância. A história dos árabes, chineses e persas nos ensina que o contato entre povos, mesmo em meio a diferenças, pode gerar formas novas e brilhantes de civilização.

Por final, trata-se, portanto, de uma lição valiosa sobre tolerância, curiosidade e respeito — virtudes que continuam sendo tão urgentes quanto atemporais.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

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