19/05/2025
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos - Jornalista
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Alterações estruturais no entretenimento e lazer

Nas últimas décadas, as modalidades de lazer e entretenimento têm passado por profundas transformações estruturais, motivadas por fatores sociais, econômicos, tecnológicos e culturais

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Neste artigo o Professor Dr. Adelcio fala sobre as alterações estruturais no entretenimento e lazer

A maneira como as pessoas se divertem, interagem socialmente e utilizam seu tempo livre foi significativamente afetada pela digitalização da vida cotidiana, pela globalização e pelas mudanças nos valores da sociedade contemporânea. Essas alterações não são apenas superficiais ou estéticas, mas envolvem uma reconfiguração completa das estruturas que sustentam o lazer, afetando desde a produção de conteúdo até o consumo e a experiência do usuário.

A ascensão da tecnologia digital é um dos vetores mais decisivos nesse processo. Com a disseminação da internet de alta velocidade, dos smartphones e das plataformas de streaming, o entretenimento deixou de estar centralizado em espaços físicos e horários fixos. O modelo tradicional de consumo de mídia, como a televisão aberta e o cinema, cedeu espaço a plataformas sob demanda como Netflix, YouTube e Twitch. Esse fenômeno criou paradigma de fruição, marcado pela personalização, pela mobilidade e pela interatividade. O espectador agora tem poder de escolha sobre o que assistir, quando e onde, rompendo com os antigos limites de grade horária e programação.

Ademais da digitalização, observa-se uma mudança nos hábitos e nas preferências culturais da população, impulsionada pelas novas gerações. O público jovem, especialmente os chamados nativos digitais, demonstram maior interesse por experiências interativas e imersivas, como jogos eletrônicos, realidade aumentada e eventos híbridos.

Os jogos online, por exemplo, deixaram de ser apenas uma forma de passatempo e se consolidaram como uma indústria bilionária, com seus próprios torneios profissionais, streamers e influenciadores. Isso revela não apenas a importância econômica dessas modalidades, mas também sua força simbólica como espaços de socialização e pertencimento.

Outro aspecto relevante das mudanças estruturais é a descentralização da produção de conteúdo. Com o avanço das redes sociais e das plataformas colaborativas, qualquer indivíduo pode produzir e compartilhar entretenimento.

A figura do “produtor de conteúdo” tornou-se central no cenário atual, desafiando o monopólio antes exercido pelos grandes veículos de comunicação. Essa democratização do acesso à criação permite uma maior diversidade de vozes e narrativas, mas também impõe desafios relacionados à curadoria, à veracidade e à regulação do conteúdo.

Paralelamente, as modalidades tradicionais de lazer, como atividades ao ar livre, práticas esportivas, encontros presenciais e turismo, também passaram por reconfigurações. A pandemia de COVID-19 acelerou essas transformações, impondo o isolamento social e a restrição da mobilidade, o que forçou a adaptação de diversas operações ao meio virtual.

Museus passaram a oferecer visitas online, teatros e shows migraram para o streaming, e até mesmo festas e encontros sociais foram realizados por meio de videoconferência. Embora essas soluções não substituam integralmente a experiência presencial, elas indicam uma tendência de hibridização entre o real e o virtual.

Lazer e entretenimento e as desigualdades sociais

A reestruturação do lazer e do entretenimento também reflete desigualdades socioeconômicas e regionais. O acesso à tecnologia e à internet de qualidade ainda é restrito em diversas partes do mundo, o que exclui parcelas significativas da população das novas modalidades digitais.

Ademais disso, a precarização das relações de trabalho e a intensificação da jornada profissional reduzem o tempo disponível para o lazer, convertendo-o muitas vezes em um consumo acelerado e fragmentado, em que o descanso se confunde com a produtividade e o entretenimento com a mercantilização do tempo livre.

Em face a esse cenário, cumpre refletir sobre os impactos sociais, culturais e psicológicos dessas mudanças. A constante busca por estímulos, a hiperconectividade e a lógica do consumo contínuo podem gerar efeitos adversos, como ansiedade, solidão e sensação de esgotamento.

Por outro lado, a ampliação das possibilidades de escolha e de expressão também oferece oportunidades de inclusão, criatividade e desenvolvimento pessoal. É fundamental, portanto, pensar em políticas públicas, iniciativas educacionais e estratégias de regulação que promovam um acesso equitativo e saudável ao lazer, garantindo seu papel como direito social e condição essencial para a qualidade de vida.

Em epítome, as alterações estruturais nas modalidades de lazer e entretenimento refletem um momento de transição profunda na sociedade contemporânea. Estamos diante de uma reconfiguração que vai além das ferramentas tecnológicas ou das modas passageiras, afetando a própria forma como nos relacionamos com o tempo, com os outros e com nós mesmos.

Em epítome, compreender tais modificações se configura essencial para pensar o presente e projetar o futuro do lazer como dimensão fundamental da existência humana.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

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