Neivor Canton, presidente da Aurora Coop e vice-presidente para assuntos do agronegócio da Federação das Indústrias de SC (Fiesc) para s obre conhecimento e sucessão no campo
Neivor Canton, presidente da Aurora Coop e vice-presidente para assuntos do agronegócio da Federação das Indústrias de SC (Fiesc) para s obre conhecimento e sucessão no campo

O milagre e o abandono do oeste catarinense

Opera-se um verdadeiro milagre no grande oeste de Santa Catarina. É uma região distante dos grandes centros de consumo, historicamente relegada a plano inferior, pelos sucessivos governos, detentora de uma precária infraestrutura e dona de uma topografia acidentada e excruciante para produção agropecuária. Nesse ambiente de improvável sucesso nasceu e vicejou a mais avançada estrutura de produção de proteína animal do Brasil e uma das melhores do mundo. Estamos falando da avicultura industrial e da suinocultura industrial. Mas pode-se incluir as também evoluídas cadeias produtiva do leite e dos cereais.

O abandono crônico levou a região a acalentar o sonho da desanexação do território barriga-verde para a criação do Estado do Iguaçu na segunda metade do século passado. Para neutralizar esse sentimento separatista, o governador Celso Ramos criou em 1963 a Secretaria dos Negócios do Oeste, responsável pela abertura de estradas, construção de linhas de energia elétrica, de escolas, centros de saúde, quartéis etc.

O sucesso produtivo deve ser creditado ao capital humano que colonizou a região desde a fundação do município de Chapecó, em 1917, formado por etnias que tinham o trabalho como um valor extremo. Esses homens nunca esperaram apoio oficial porque o Estado era um ente ausente.

Relativamente incorporado à economia e à cultura, em decorrência da ação daquela Secretaria de Estado descentralizada, o oeste integrou-se politicamente a todo Estado, mas o déficit de investimentos permaneceu. As estradas da região não fazem justiça à intensidade das riquezas que nelas transitam 24 horas por dia. Inexistem ferrovias. A água potável para o consumo humano é escassa e a precariedade da energia limita a expansão empresarial. Como investir em uma porção do País com tantas deficiências?

A malha rodoviária estadual está completamente danificada, em centenas de trechos o pavimento asfáltico esboroou-se, a sinalização vertical e horizontal desapareceu e o mato avançou sobre a pista de rolamento. A suprema ironia é que sobre essas precárias vias passam todos os dias milhares de caminhões transportando riquezas exportáveis – alimentos de alta qualidade para o Brasil e o mundo – gerando a arrecadação de milhões de reais em tributos diretos e indiretos ao erário do Estado e da União.  Essa dinheirama derramada nos cofres públicos não está retornando em forma de investimentos.

A agroindústria catarinense notabilizou-se internacionalmente pelo seu moderno e seguro sistema de produção no campo e nas fábricas, exportando para 160 países. Com milhares de caminhões nas estradas levando insumos para processamento – especialmente ativos biológicos – ou produtos industrializados para portos e centros de distribuição. As más condições das rodovias impactam nos custos e derrubam a competitividade internacional das empresas.

Nesse cenário de tantas dificuldades já ocorre a fuga de investimentos, basta ver o número de empreendimentos que as agroindústrias nascidas em solo catarinense já empreenderam no Brasil Central, onde a infraestrutura é melhor e há abundância de grãos, principal insumo da produção de aves e suínos.

As indústrias são concreta e objetivamente desestimuladas a investir em face das deficiências infraestruturais. Contudo, na contramão dessa que seria uma tendência lógica, as empresas – particularmente as de natureza cooperativista – anunciam investimentos no oeste. Teimosia ou ingênua fé no futuro?

As cooperativas – categoria jurídica em que se insere a Aurora – tem compromisso inafastável com sua base associativa, pois foram os produtores rurais que as constituíram para organizar a produção, disputar o mercado em condições competitivas, obter melhores ganhos e promover o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida dos seus cooperados.

A classe política deveria olhar para o grande oeste e compreender essas peculiaridades, esse amor pela terra, essa tenacidade em estabelecer aqui um processo sócio-econômico-cultural e propor um arrojado programa de superação das nossas deficiências e valorização das nossas potencialidades.

A análise histórica revela que a representação política do oeste não tem sido feliz em traduzir as dificuldades e conquistar investimentos.  Os parlamentares da região com assento na Assembleia Legislativa, os deputados federais e senadores no Congresso e o Governo do Estado precisam costurar um pacto em favor do oeste.  

O oeste não pode mais esperar!

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