19/05/2025
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos - Jornalista
Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos - Jornalista

Jornalismo Ambiental

Em início, o jornalismo ambiental se configura em vertente do jornalismo que se ocupa da cobertura de temas ligados à natureza, sustentabilidade, políticas ambientais, mudanças climáticas, conservação de ecossistemas e impactos socioambientais. Em um mundo onde a crise climática, a perda de biodiversidade e os desastres naturais se intensificam a cada ano, o papel da imprensa como mediadora entre a ciência, a sociedade e os tomadores de decisão tornam-se cada vez mais relevante. Mais do que informar, o jornalismo ambiental tem a responsabilidade de educar, alertar e provocar reflexão crítica sobre os rumos que a humanidade vem tomando em relação ao planeta.

Historicamente, o jornalismo ambiental surge como resposta às grandes catástrofes ecológicas que começaram a ganhar notoriedade a partir da segunda metade do século XX. Acidentes como o vazamento de petróleo da Exxon Valdez (1989), o desastre de Bhopal (1984) e o acidente nuclear de Chernobyl (1986) foram momentos-chave em que a mídia passou a dar maior atenção às questões ambientais. No Brasil, o agravamento do desmatamento na Amazônia, os desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), e as crises hídricas e energéticas também impuseram à imprensa o desafio de aprofundar sua cobertura e adotar uma abordagem mais crítica e contextualizada.

No entanto, o jornalismo ambiental ainda enfrenta uma série de desafios. Um dos principais é a complexidade dos temas abordados, que muitas vezes envolvem linguagem científica, dados técnicos e análises multidisciplinares. Isso exige dos jornalistas não apenas domínio da linguagem jornalística, mas também familiaridade com conceitos da biologia, geografia, química, direito ambiental, entre outros. Outro obstáculo é a pressão econômica sobre os veículos de comunicação, que podem limitar o tempo e os recursos disponíveis para reportagens investigativas, privilegiando coberturas pontuais, superficiais ou sensacionalistas.

Soma-se a isso o risco da chamada “lavagem verde” (greenwashing), quando empresas ou governos tentam manipular a cobertura midiática para parecerem mais sustentáveis do que realmente são.

 Conquanto esses obstáculos, há exemplos inspiradores de jornalismo ambiental de qualidade sendo praticado ao redor do mundo. Reportagens investigativas que revelam crimes ambientais, como extração ilegal de madeira, pesca predatória e grilagem de terras públicas, têm ganhado prêmios e reconhecimento.

Ademais disso, o crescimento da imprensa independente e o uso de novas tecnologias — como drones, imagens de satélite e geolocalização — têm ampliado as possibilidades narrativas e investigativas dessa área. O jornalismo de dados também tem se mostrado uma ferramenta poderosa para revelar padrões de degradação ambiental e suas correlações com desigualdades sociais.

Outro aspecto importante é o papel do jornalismo ambiental na formação de uma cidadania ecológica. Ao expor os impactos das ações humanas sobre o meio ambiente, a imprensa contribui para que o público compreenda a interdependência entre natureza e sociedade. Questões como poluição do ar, saneamento básico, segurança alimentar e mobilidade urbana, quando abordadas sob uma perspectiva ambiental, revelam como os problemas ecológicos afetam de maneira desigual diferentes grupos sociais.

 Destarte, o jornalismo ambiental também se insere no campo dos direitos humanos, denunciando injustiças ambientais e ecoando vozes de populações tradicionalmente marginalizadas, como indígenas, ribeirinhos, quilombolas e comunidades periféricas.

A cobertura ambiental também se beneficia da articulação com o jornalismo científico e o jornalismo investigativo. Diante de um cenário em que a desinformação e o negacionismo científico ganham espaço, sobretudo nas redes sociais, torna-se essencial que a imprensa atue com rigor, checagem de fatos e compromisso com a verdade. Isso implica, por exemplo, desconstruir discursos que negam as mudanças climáticas ou minimizam os efeitos da degradação ambiental. O jornalismo ambiental responsável precisa pautar-se por fontes confiáveis, dados verificáveis e uma perspectiva de longo prazo, combatendo o imediatismo e a espetacularização que muitas vezes dominam a cobertura jornalística.

No contexto digital, o jornalismo ambiental também enfrenta transformações. A internet ampliou o acesso à informação, mas também fragmentou audiências e abriu espaço para a disseminação de fake news ambientais. Por outro lado, surgiram oportunidades valiosas, como a possibilidade de construir redes colaborativas de jornalistas, ativistas e cientistas, fortalecendo a produção de conteúdos mais profundos e engajados. Ferramentas digitais permitem o mapeamento de queimadas em tempo real, o monitoramento de rios e florestas e o acompanhamento de políticas públicas ambientais com maior precisão e transparência.

No Brasil, iniciativas como ((o Observatório do Clima, o InfoAmazonia e a Agência Pública)) demonstram como o jornalismo ambiental pode ser exercido de forma inovadora, independente e comprometida com os interesses coletivos. Essas organizações produzem conteúdos que combinam investigação jornalística com visualização de dados, narrativas multimídia e participação cidadã, oferecendo ao público informações acessíveis e relevantes para a tomada de decisões conscientes.

Em última análise, é fundamental reconhecer que o jornalismo ambiental não deve ser encarado como um nicho isolado, mas como parte integrante de um jornalismo mais amplo, que compreenda a crise ecológica como um dos principais desafios do século XXI. A emergência climática, a escassez de recursos naturais, a contaminação dos solos e águas e o colapso da biodiversidade não são apenas temas ambientais, mas questões centrais da política, da economia, da saúde e da justiça social.

Em epítome, ai Jornalismo incumbe exercer seu papel como guardiã do interesse público, investigando, denunciando e, sobretudo, promovendo o debate público necessário para uma transição ecológica justa e democrática.

Prof. Dr. Adelcio Machado dos Santos
Jornalista (MT/SC 4155)

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