23/05/2025
Bernardina Angeli Fagundes, a dona Dinha, ainda trabalhava e irradiava paz e alegria

A pioneira colônia de italianos no Brasil está de luto, dona “Dinha” faleceu aos 108 anos

A Pioneira colônia de italianos no Brasil amanheceu de luto, nesta segunda-feira. Em sua residência, na Estrada Geral de Colônia Nova Itália, às 20h30min de domingo (9 de janeiro de 2022) faleceu a viúva Bernardina Angeli Fagundes, dona Dinha, vinda à luz em 12 de abril do ano da graça do Senhor de 1913, fruto da união matrimonial contraída, aos 13 anos, por Maria Augusta Pera com o imigrante italiano Agostino Fidelle Angeli.

Aos 108 anos, dona Dinha partiu para a vida eterna. Pranteando sua morte, além de uma legião de amigos, os seus três filhos, oito netos, nove bisnetos e demais familiares.

Dona Dinha e os descendentes do médico e violinista Henrique Ambauer Schutel, um dos fundadores da Colônia Nova Itália

Seu corpo está sendo velado na Capela Mortuária de Colônia Nova Itália. E seu sepultamento será realizado nesta segunda-feira, no Cemitério São José, após a celebração da missa de corpo presente, às 16h, na capela São José de Colônia Nova Itália, em São João Batista.

Até recentemente, Bernardina Angeli Fagundes, a dona Dinha, ainda trabalhava e irradiava paz e alegria no “Berço da Imigração Italiana no Brasil”.

Imigrante Italiano

O pai de dona Dinha chegou ao Brasil com 19 anos, juntamente com o irmão Domênico Fidelle Angeli, o bisavô do agricultor e memorialista da Colônia Nova Itália, José Sardo, o Saulo.

Agostino e Domênico Fidelle Angeli emigraram da Itália para o Brasil objetivando reencontrar o pai, Giuseppe Fidelle Angeli, que viera para o Brasil há aproximadamente 17 anos. A mãe de Agostino e Domênico, Páscoa Landim, falecera na Itália.

Memorialista da Colônia Nova Itália, José Sardo, o Saulo, homenageia Dona Dinha, na foto acompanhada pelos filhos

Dona Dinha, a mais nova entre 10 irmãos, ficou órfã de pai aos oito anos. Sempre residiu na Colônia Nova Itália, em terras que pertenceram aos seus avós maternos, os imigrantes italianos Maria Gambetta e Giuseppe Pera.

Do sacramento do Matrimônio celebrado com José Anastácio Fagundes, Bernardina Angeli Fagundes deu à luz Maria Fagundes Gonçalves, Terezinha Angeli Fagundes e José Santino Fagundes. Dona Dinha ficou viúva aos 37 anos, com três filhos pequenos para criar, tendo o mais novo apenas 1 ano e 1 mês. “Nós não passamos fome, pois eu criava galinha, porcos, vaca de leite, plantava verduras, legumes e frutas”, recordava.

Força de vontade e trabalho

Força de vontade e trabalho marcaram a centenária história de vida de Bernardina. Mesmo com a idade avançada ela ainda trabalhava. Junto da filha Terezinha confeccionava estopas, tecidos sobrepostos costurados e utilizados para limpeza. O trabalho exige bastante paciência. Pedaço a pedaço, delicadamente, ela dispunha os pequenos tecidos num pano maior. Dobrava e empilhava na mesa. A costura era feita na própria casa. 

Emprego aos 104 anos

Após 15 anos de trabalho fiel para uma facção da fábrica de estopas de Porto Belo/SC, com o falecimento do proprietário da empresa, dona Dinha ficou desempregada.

A filha, Terezinha Angeli Fagundes, que morava com a mãe e forma dupla na produção de estopas, explicou que “ela chorou muito porque estava desempregada. Não pelo financeiro, mas porque gosta de fazer, de não ficar parada”.

Já a centenária dona Dinha declarou então que “eu preciso trabalhar porque é bom. Nem presta ficar desocupada. Quando tenho serviço, isso faz o tempo passar. Eu também faço meus crochês, tenho minha aposentadoria, mas queria alguma coisinha, assim, como mexer nos paninhos. Como gosto muito de trabalhar, fiquei triste quando paramos de receber as estopas e fiquei desempregada”.

Plácido Vargas expôs o ‘desemprego’ nas redes sociais e a família do ex-patrão recontratou dona Dinha

O então secretário de Desenvolvimento Econômico de São João Batista e amigo da família, Plácido Vargas, postou uma fotografia de dona Dinha e contou a razão de sua tristeza, o que causou comoção nas redes sociais.

A notícia de que Bernardina estava procurando emprego aos 104 anos logo chegou à família do antigo patrão, que correu para explicar que a parada foi temporária e que ela estava recontratada. “Quando eu a visitei ela estava muito triste. Queria apenas continuar trabalhando e quando postei a foto dela, os filhos do ex-patrão ficaram sabendo. E foi só alegria quando eles voltaram a entregar os retalhos para a produção das estopas”, comentou Plácido.

Bernardina recordava que, anteriormente, trabalhava na roça, “onde eu plantava milho, feijão, mandioca”. E com um sorriso estampado no rosto, lembrava que “meu pai morreu, casei, fiquei viúva aos 37 e tinha as crianças para alimentar. O sogro mandou dar os filhos, porque dizia que eu não dava conta de cria-los. Fiquei até 80 anos na lavoura e estão todos criados”.

O segredo da longevidade

Dormia tarde e acordava cedo. Como qualquer pessoa, a rotina de Bernardina não era muito diferente. Ativa, não costumava ter horário certo para se deitar. Se aparecia o sono, lá ela ia para a cama que dividia com a filha. Não queria saber de dietas e não se privava de um bom churrasco, onde preferia a gordura da carne. Tinha predileção pela polenta misturada ao leite, diretamente do fogão à lenha, usado todos os dias, mesmo no verão.

“Vou até onde Deus quiser …”

De boa memória, ela lembrava detalhes da vida sofrida. O maior segredo para “durar tanto”, como ela mesma dizia, estava nos calos das mãos. Medo da morte não tinha. Pelo contrário, dizia que estava pronta, caso o “povo do céu”, necessitasse chamar por ela. “Ela estava melhor que nós todos juntos. Sem colesterol, nem diabete, anda por tudo, uma visão perfeita e lúcida”, declarou a filha Terezinha há dois anos.

Texto: Historiador Paulo Vendelino Kons

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