Sempre é tempo de olhar com orgulho para o que o Brasil tem de melhor por Luciana Thomé
Vou confessar publicamente: minha vaidade está nos livros que li, nas viagens que fiz e nas delícias que comi.
Trabalhar com turismo e com gastronomia me ensinou a amar o Brasil. Sou da Geração Y, nasci nos anos 80, tempo daquela inflação estratosférica, e desde pequena já sabia o quanto era difícil sobreviver. Ouvia meu pai falar da Ditadura, e minha mãe se esforçar muito trabalhando 28 dias por mês, com apenas 2 folgas, e tudo isso por um salário mínimo.
Aí vieram os anos 90 e toda aquela função do impeachment de Collor – acompanhada do discurso clássico: “Tá vendo? Isso é o Brasil que não vai dar certo nunca!”. E a coisa foi assim com escândalo atrás de escândalo, e crise atrás de crise, sempre com a corrupção colocando em cheque nossa capacidade enquanto nação (e é óbvio que não podemos desmerecer isso), mas quando a Internet e os celulares chegaram ficou mais fácil comparar os nossos “fracassos” com os sucesso dos outros, e parece que isso ganhou proporções exponenciais… algo praticamente depressivo: quanto mais se mergulha no mundo da sociedade da informação, mas complexa é a batalha de se construir visões de fato críticas e bem fundamentadas sem o maldito complexo de vira-latas.
Sorte a minha (eu acho…) fui criada com uma certa liberdade de pensar – acho que não fechei minha mente para novas perspectivas e não tive exemplos muito opressores na formação da minha visão inicial de mundo.
Então, em 2005 comecei a trabalhar com turismo, algo meio por acaso, mas lá no começo, ainda jovem, ouvi daquele que hoje é meu grande amigo e sem dúvida um dos maiores viajantes que conheço – o querido Carlos Augusto Silveira Alves – que antes de ser turismólogo ou profissional do setor ele era um TURISTA, e contava tantas histórias de suas experiências pelo mundo que ficava fácil aprender com ele. Incrível como naquelas conversas o ouvinte passava a admirar os lugares e as pessoas das quais falava. Era como se existisse mais de um Brasil – o do Carlos e o meu. E neste momento eu entendi que a diferença está no conhecer e no olhar, na qualidade e na empatia do olhar…
Acho que a partir disso comecei a aprender a procurar olhar para o que o nosso Brasil tinha e tem de melhor, e são tantas, tantas coisas que é indescritível. Foi através das lentes do turismo que eu aprendi a admirar e amar o Brasil e que esse sentimento começou a ter força dentro de mim. Talvez por isso meu trabalho tenha me levou a tantos lugares para contribuir com a união e cooperação entre pessoas para valorizar e reconhecer entre “os seus” o que lhes pertence.
Vícios de visão – algo que muito vi e ainda vejo constantemente de norte a sul. Talvez (talvez mesmo!) seja esse um dos grandes motivos das nossas dificuldades em desenvolver os destinos turísticos e fazer da gastronomia brasileira um grande valor de promoção mundial. Afinal: no que somos bons? Do que podemos nos orgulhar?
Então, neste momento de crise e sofrimento em meio a pandemia, com as distâncias que aumentaram entre as pessoas e com a falta dos encontros cheios de hospitalidade – algo tão característico de nossa gente, foi que, junto com dois grandes entusiastas e empreendedores – Marta Rossi e Eduardo Zorzanello – decidimos fazer o segundo Festuris Connection com o tema “O Futuro da Alimentação e da Gastronomia – Origem, Mesa, Turismo” para falar e mostrar um pouco do muito que temos de melhor, uma parte importante do Brasil que dá certo.
A força impressionante do agronegócio, a importância da indústria de alimentos do Brasil, a riqueza da nossa gastronomia e a diversidade de culturas e de ingredientes que fazem dela uma grande viagem por si só, os alimentos de excelência que aqui são produzidos com todo cuidado a partir da origem, e o turismo que permeia e reconhece tudo isso – desde os negócios, estudos e pesquisas que movimentam o mercado através do agro e da inovação e tecnologia de nossas indústrias, passando pelos maravilhosos festivais espalhados pelo brasil, e pelas referências de produtos de origem e daqueles repletos de histórias, saberes e fazeres, até chegar na experiência à mesa e na descoberta que revela novos olhares sobre o nosso país – esses são os motivos que nos inspiraram a valorizar ainda mais o que os empreendedores brasileiros fazem tão bem.
E é tudo isso que queremos mostrar no FESTURIS Connection. Desde o grande produtor ao pequeno agricultor, ou da indústria mais moderna até o produto artesanal mais tradicional, temos o melhor a oferecer. E queremos com isso trazer mais ânimo, esperança e força para que possamos cada vez mais olhar com qualidade, orgulho e amor o nosso País – sem deixar de lado as dificuldades e os desafios, mas buscar caminhos com a visão de empreendedor que olha o futuro com desejo de transformar e realizar ainda mais, unindo forçar para contribuir com o reconhecimento que o Brasil merece.
Por: Luciana Thomé – Curadora do FESTURIS CONNECTION